Outro dia, eu estava conversando com uma amiga e ela estava me contando
um episódio que presenciou em um restaurante envolvendo uma mãe e duas filhas;
a mais velha parecia ter uns catorze anos e a mais nova não passava dos seis.
As três chegaram ao restaurante e foram se acomodando até que chegasse o cardápio
e pudessem pedir o que desejavam comer. A filha mais velha sentou-se num lugar
de onde não tinha acesso à TV e nem podia ver o resto do ambiente, ao passo que
o lugar em que sentou a filha mais nova tinha acesso a tudo isso. O engraçado é
que a pequena não queria o lugar que lhe sobrou, queria o lugar da irmã e começou
a dizer para a mais velha “xô, eu quero sentar aí, xô”. Bom, pelo tom de voz da
garotinha, qualquer um percebia que tratava-se de uma criança muito, mais muito
mimada. Eu no lugar daquela mãe diria “em casa a gente resolve isso, agora
senta no seu lugar e fique quieta”. Ao contrário daquela mãe, que mandou a
filha mais velha sair do seu lugar para que a menor parasse de dar o show que
estava causando no restaurante pra quem quisesse ver, pois a menina gritava,
esperneava e mandava na outra “xô, eu é que vou sentar aí, xô”. Pelo amor de
Deus, o termo xô, nós usamos quando espantamos um animal. E era exatamente isso
que a garota dizia para a sua irmã enquanto sua mãe nada fazia além de pedir
que uma filha cedesse o lugar para a outra. Enquanto o fazia, eram essas as
suas palavras: “vai, filha, deixa ela sentar aí pra ela parar de encher o saco”.
Ou seja, ela deixou claro para a garotinha que faria o que ela quisesse para
que ela não enchesse o saco, né? Bom, isso me fez pensar que aquela garotinha
mimada crescerá e um dia estará na escola, como também me lembrei do tanto de
crianças e adolescentes mimados que recebemos em nossa escola, que brigam e
arrumam confusões para os professores e a gestão da escola resolver porque o
outro sentou no lugar que pertencia à beldade e tantas outras coisas que acaba
sobrando pra escola. Pensei também a respeito da grande batalha para a escola
do século XXI que é encontrar nos pais uma parceria na educação de seus filhos;
o que dificilmente acontece. Na prática, recebemos milhares de adolescentes que
querem fazer na escola exatamente o que fazem em casa e quando são punidos pela
escola, seus pais vêm furiosos atuar em prol da defesa do filho. O que eles não
entendem é que em casa o adolescente é filho, na escola ele é aluno. A escola não
pode enxergá-lo como filho e nem a família pode vê-lo em casa como aluno.
Quando o professor, depois de implorar mil vezes para o aluno guardar o seu
celular e não é atendido, retira o celular do aluno, os pais vêm correndo para
a escola, muitas vezes brigar com a professora porque retirou o celular do seu
filho, mas esquece que ali no ambiente escolar ele não é filho, é aluno e como
tal quebrou não apenas uma regra da escola, mas uma lei estadual, a 12.730 que
proíbe o uso de aparelhos celulares dentro da escola. Pais vão à escola
defender o filho, mas esquece que ali ele é um aluno e deve se comportar como
tal. A escola não é um depósito de crianças e adolescentes e também não é
creche; a escola é uma instituição de ensinos, e pra isso precisa ter
regulamentos e regras que devem ser respeitadas por alunos, pais, funcionários
e comunidade. Na bandeira do nosso país está escrito “ordem e progresso”, o que
mostra que sem a ordem é impossível obter o progresso. Se esse princípio não começar
na escola, onde o ser humano vai pra aprender, o que podemos esperar do nosso
país se o que dizem é que os jovens de hoje são o futuro de amanhã? No passado
se dizia: deixem um mundo melhor para os nossos filhos; hoje há um clamor:
deixem filhos melhores para o nosso mundo.
Fica a dica...
Adeildo Levigade