terça-feira, 4 de junho de 2013

Filho é filho, aluno é aluno.


Outro dia, eu estava conversando com uma amiga e ela estava me contando um episódio que presenciou em um restaurante envolvendo uma mãe e duas filhas; a mais velha parecia ter uns catorze anos e a mais nova não passava dos seis. As três chegaram ao restaurante e foram se acomodando até que chegasse o cardápio e pudessem pedir o que desejavam comer. A filha mais velha sentou-se num lugar de onde não tinha acesso à TV e nem podia ver o resto do ambiente, ao passo que o lugar em que sentou a filha mais nova tinha acesso a tudo isso. O engraçado é que a pequena não queria o lugar que lhe sobrou, queria o lugar da irmã e começou a dizer para a mais velha “xô, eu quero sentar aí, xô”. Bom, pelo tom de voz da garotinha, qualquer um percebia que tratava-se de uma criança muito, mais muito mimada. Eu no lugar daquela mãe diria “em casa a gente resolve isso, agora senta no seu lugar e fique quieta”. Ao contrário daquela mãe, que mandou a filha mais velha sair do seu lugar para que a menor parasse de dar o show que estava causando no restaurante pra quem quisesse ver, pois a menina gritava, esperneava e mandava na outra “xô, eu é que vou sentar aí, xô”. Pelo amor de Deus, o termo xô, nós usamos quando espantamos um animal. E era exatamente isso que a garota dizia para a sua irmã enquanto sua mãe nada fazia além de pedir que uma filha cedesse o lugar para a outra. Enquanto o fazia, eram essas as suas palavras: “vai, filha, deixa ela sentar aí pra ela parar de encher o saco”. Ou seja, ela deixou claro para a garotinha que faria o que ela quisesse para que ela não enchesse o saco, né? Bom, isso me fez pensar que aquela garotinha mimada crescerá e um dia estará na escola, como também me lembrei do tanto de crianças e adolescentes mimados que recebemos em nossa escola, que brigam e arrumam confusões para os professores e a gestão da escola resolver porque o outro sentou no lugar que pertencia à beldade e tantas outras coisas que acaba sobrando pra escola. Pensei também a respeito da grande batalha para a escola do século XXI que é encontrar nos pais uma parceria na educação de seus filhos; o que dificilmente acontece. Na prática, recebemos milhares de adolescentes que querem fazer na escola exatamente o que fazem em casa e quando são punidos pela escola, seus pais vêm furiosos atuar em prol da defesa do filho. O que eles não entendem é que em casa o adolescente é filho, na escola ele é aluno. A escola não pode enxergá-lo como filho e nem a família pode vê-lo em casa como aluno. Quando o professor, depois de implorar mil vezes para o aluno guardar o seu celular e não é atendido, retira o celular do aluno, os pais vêm correndo para a escola, muitas vezes brigar com a professora porque retirou o celular do seu filho, mas esquece que ali no ambiente escolar ele não é filho, é aluno e como tal quebrou não apenas uma regra da escola, mas uma lei estadual, a 12.730 que proíbe o uso de aparelhos celulares dentro da escola. Pais vão à escola defender o filho, mas esquece que ali ele é um aluno e deve se comportar como tal. A escola não é um depósito de crianças e adolescentes e também não é creche; a escola é uma instituição de ensinos, e pra isso precisa ter regulamentos e regras que devem ser respeitadas por alunos, pais, funcionários e comunidade. Na bandeira do nosso país está escrito “ordem e progresso”, o que mostra que sem a ordem é impossível obter o progresso. Se esse princípio não começar na escola, onde o ser humano vai pra aprender, o que podemos esperar do nosso país se o que dizem é que os jovens de hoje são o futuro de amanhã? No passado se dizia: deixem um mundo melhor para os nossos filhos; hoje há um clamor: deixem filhos melhores para o nosso mundo.
Fica a dica...

Adeildo Levigade